Jornadas parlamentares do PCP

Os comunistas não ficam a ver passar os comboios

Foto Rosa Pedroso Lima

Foto Rosa Pedroso Lima

Uma delegação parlamentar do PCP visitou oficinas de reparação de comboios onde a CP coloca as máquinas a necessitar de cuidados intensivos. No Entroncamento, já não há fenómenos como havia dantes. Falta quase tudo, desde mão de obra a peças - e, claro, investimento de fundo

Texto Rosa Pedroso Lima

Na parede mesmo em frente da máquina do café, centenas de rostos sorriem para a fotografia. Um mural que diz que a “EMEF somos todos nós” mostra a cara de cada um dos mais de 350 trabalhadores que compõem o quadro das oficinas do Entroncamento. Uma bela ideia para criar e estimular o espírito de equipa, mas os tempos não estão para isso. Ainda o ano não tinha chegado a meio, já mais de 40 trabalhadores tinham passado à reforma antecipada. “E há mais a sair”, diz Manuel Borrego, da comissão de trabalhadores. O mural da parede vai dando conta das saídas. Uma bolinha negra no cimo das fotos, vai dando ‘baixa’ aos aposentados. E são muitas. Parece um padrão salpicado da grande fotografia de família.

Foto Rosa Pedroso Lima

Foto Rosa Pedroso Lima

João Oliveira, líder da bancada parlamentar, e os deputados Bruno Dias e Duarte Alves formam a delegação comunista que visita a EMEF. Duarte Alves, que substituiu o deputado Miguel Tiago, tem aqui o seu batismo na primeira iniciativa feita pelos deputados no âmbito das jornadas parlamentares. O dia é de greve na CP, mas não aqui, onde as carruagens de todos os tipos de comboios repousam no imenso estaleiro, para reparações mais ou menos profundas. Seis carruagens dos alfa pendulares estão lá, na reparação de meio de vida, que devia ter sido feita há oito anos, mas que foi sendo adiada... até agora.

“A situação é preocupante, porque resulta de muitos anos de desinvestimento”, resume João Oliveira, no final da visita às instalações. O PCP aproveita a oportunidade para reclamar mais investimento e até que, no próximo orçamento, sejam tidas em “consideração” as necessidades da EMEF, mas não fica por aqui. “O sector ferroviário tem de ser considerado um sector estratégico do país”, reclama. E, já agora, defende que as oficinas “têm de regressar à CP, de onde nunca deviam ter saído”.

À empresa não falta trabalho, mas não há mãos para o fazer e dinheiro para comprar peças e melhorar os equipamentos. “Andamos a empurrar o problema com a barriga há demasiados anos”, diz Manuel Borrego, da comissão de trabalhadores. Os comunistas concordam e registam.

Um magno problema

O dia dos comunistas arrancou com discursos recheados de fortes avisos ao Governo e ao PS. E a questão da falta do investimento público foi um dos temas que serviu para apontar o dedo a António Costa. “O investimento está ao nível de há vinte anos atrás. Não basta anunciar o seu aumento, claramente insuficiente, é preciso garantir a sua concretização”, avisou Jerónimo de Sousa.

Foto Lusa

Foto Lusa

As negociações orçamentais estão na reta final, é tempo de fazer o balanço dos anos da geringonça. O líder do PCP não tem dúvidas de que é preciso “uma mudança de fundo na orientação política do governo do país”. E, aliás, tem pressa em que ela se concretize. Jerónimo acha que “é tempo de romper”, que “está na hora de pôr fim” e de que “é preciso pôr travão” àquilo que considera serem os desvios de direita do Executivo.

Mas os comunistas ainda não deitam a toalha da geringonça ao chão. Em tempo de definir o Orçamento não vão “desperdiçar nenhuma oportunidade” para atingir os seus objetivos. Mas gerir esta situação não parece tarefa simples. É mesmo “um magno problema”, admite Jerónimo de Sousa. E, no Parlamento, os comunistas não vão querer ficar a ver passar os comboios. As linhas estão definidas, o percurso também. O maquinista, esperam, não vai querer fazer descarrilar a composição.