BALANÇO DA PRÉ-EPOCA DE FUTEBOL

À procura de um oito, de um banco e de um balcão

O que dizer da pré-época de Benfica, Sporting e FC Porto? Que Rui Vitória tem de definir quem joga no lugar de Renato, que Jesus precisa de melhores suplentes e Espírito Santo de margem negocial para comprar titulares

TEXTO PEDRO CANDEIAS

BENFICA

Resumo: 7 jogos, 4 vitórias, 1 empate, 3 derrotas, 18 golos marcados e 5 golos sofridos

O que não falta ao Benfica são extremos, muitos extremos, oito extremos, três extremos a mais mesmo para uma equipa que joga com dois e disputa quatro competições: Salvio, Cervi, Carrillo, Zivkvovic, Pizzi, Carcela, Gonçalo Guedes e Benítez. E como há dois extremos que fazem duas posições (Guedes tem jogado como segundo avançado; Pizzi pode ser um ‘oito’) e os polivalentes dão sempre jeito, será o mercado a escolher quem destes sai até 31 de agosto: Carcela, Salvio, Benítez ou, quem sabe, Carrillo.

Quando isso acontecer, ficaremos a saber quem é o substituto de Gaitán (saiu para o Atlético de Madrid) e encerramos uma das duas dúvidas do Benfica para 2016/17 - a outra, adivinhou, é perceber quem fará de Renato Sanches (foi para o Bayern de Munique). E é aqui que tudo se complica.

O Benfica de 2016/17 é praticamente igual ao Benfica de 2015/16, mas sem Renato Sanches, e isto quer dizer mais da posição do que do jogador em si. Vamos lá a ver: entre Fejsa e outro tipo qualquer, Rui Vitória preferirá sempre o sérvio, porque lhe serve ter um trinco fisicamente disponível para o choque e para acudir aos fogos da defesa. Ora, isto obriga a que o outro homem do centro do meio-campo progrida e crie desequilíbrios, que estique o jogo e o leve ao lugar onde Jonas gosta de o ter para criar perigo com Mitroglou. E esse ‘8’ não é Celis (como se viu domingo contra o Lyon), ainda não é André Horta (a quem falta corpo) e pode ser Danilo (que chegou agora ao clube). De resto, já se viu que para Gaitán há Cervi, que Jonas e Mitroglou continuam com golo se a bola lá lhes chegar, que Grimaldo está a um passo de destronar o peso-pesado Eliseu e que Semedo fará concorrência a André Almeida.

FIXE ESTE NOME Chama-se Franco Cervi, tem 22 anos, é argentino e tem tudo para ser o novo Gaitán do Benfica FOTO PATRICIA DE MELO MOREIRA / GETTY

FIXE ESTE NOME Chama-se Franco Cervi, tem 22 anos, é argentino e tem tudo para ser o novo Gaitán do Benfica FOTO PATRICIA DE MELO MOREIRA / GETTY

Se acertar na fórmula correta do meio-campo, o Benfica parte à frente para o campeonato. Primeiro, porque é o campeão. Segundo, porque se reforçou mais do que os outros, o que lhe permite rodar melhor o plantel durante o ano. Terceiro, porque vendeu mais, o que lhe permite encarar melhor o mercado do que os outros. E tudo isto é hoje verdade e amanhã pode ser mentira - pode anotar, a frase tem prazo de validade até 31 de agosto e estende-se aos clubes que se seguem.

SPORTING

Resumo: 8 jogos, 3 vitórias, 1 empate, 4 derrotas, 17 golos marcados e 17 golos sofridos

Jorge Jesus gosta de afirmar que o futebol é uma ciência coletiva mas também uma ciência de cada um (ainda no outro dia o disse), e se bem percebo o que ele quer dizer, o treinador Sporting está a referir-se à sua capacidade de criar. J.J. tem razão. Ele é criativo e a criatividade não se aprende: ou se tem ou não se tem, e quando se quer e não se tem, arranja-se. Ou melhor, compra-se. E é isso que o Sporting terá de fazer se quiser ser um bocadinho melhor do que em 2015/16 (ficou a uma vitória ou dois empates de ser campeão nacional), com a responsabilidade de não desbaratar a campanha na Liga dos Campeões, na qual entrou diretamente.

No momento em que este texto está a ser escrito, nenhum dos craques do Sporting foi vendido, o que significa que a equipa está mais forte que o ano passado, porque o tempo, a prática e a repetição fazem evoluir os conceitos - e jogadores como Schelotto, Zeegelaar, Coates e Semedo, que entraram a meio da época anterior, agradecem.

O problema do Sporting não está nos titulares, como se viu no sábado contra o Wolfsburgo (2-1), mas no banco de suplentes. Se retirarmos William, Adrien, João Mário e Slimani de campo e pusermos outros nos seus lugares, a diferença na qualidade do jogo será abismal. E isso não acontece apenas porque sim, mas porque são melhores, porque jogam juntos há mais tempo - e porque jogam juntos há mais tempo com este treinador. Palhinha, Bruno Paulista, Iuri Medeiros, Podence, Carlos Mané, Gelson e Matheus são miúdos talentosos, mas o que J.J. procura é experiência e competitividade.

FICA OU SAI? João Mário é um dos indiscutíveis de J. J. mas está a ser dos jogadores mais cobiçados no mercado. Até 31 de agosto, tudo pode acontecer FOTO JOSÉ SENA GOULÃO / LUSA

FICA OU SAI? João Mário é um dos indiscutíveis de J. J. mas está a ser dos jogadores mais cobiçados no mercado. Até 31 de agosto, tudo pode acontecer FOTO JOSÉ SENA GOULÃO / LUSA

Portanto, mesmo o cenário ideal (idílico?) de Jorge Jesus, em que o Sporting conservaria todos os seus melhores jogadores e só venderia os excedentários, não chegaria para jogar em vários tabuleiros com igual intensidade, até porque o que mais seduz no estilo do SCP de J.J. é isso mesmo, a intensidade. E esta tem um custo físico e emocional. É preciso ir ao mercado.

Até 31 de agosto, o mais provável será o Sporting contratar um ponta de lança (o reforço Spalvis lesionou-se) para estar ao lado de Slimani já que Teo e Barcos estarão de saída e Alan Ruiz tem uns quilinhos a mais; um defesa central para fazer sombra a Semedo; um médio faz-tudo para proteger Adrien e João Mário; e ainda outro médio, se João Mário acabar por ser transferido.

FC PORTO

Resumo: 7 jogos, 4 vitórias, 2 empates, 1 derrota, 18 golos marcados e 7 sofridos

Nuno Espírito Santo entrou no Dragão com um argumento a favor, aliás dois argumentos a favor, um deles era ser filho da casa e o outro era saber que fazer pior do que Lopetegui seria difícil. Convém não esquecer que Lopetegui chegou a ter o melhor plantel do campeonato em 2014/15 (Jackson, Danilo, Alex Sandro, Brahimi, Tello, Casemiro e/ou Quaresma) e nada ganhou. E convém não esquecer que, ainda assim, Lopetegui manteve o seu lugar para a época seguinte e acabou despedido e o FC Porto com um final de campeonato sem nada por que lutar. Pelo caminho, o futebol de Lopetegui colidiu com o Futebol Clube do Porto, transformando a agressividade e a pressa costumeiras num carrossel aborrecido que tirou os adeptos das bancadas.

Portanto, sim, pior do que Lopetegui seria difícil. E, logicamente, sim, melhor do que Lopetegui seria fácil.

TEMOS GOLEADOR Quem diz que Portugal não forma avançados de qualidade ainda não viu André Silva jogar nesta pré-época FOTO PEDRO TRINDADE / LUSA

TEMOS GOLEADOR Quem diz que Portugal não forma avançados de qualidade ainda não viu André Silva jogar nesta pré-época FOTO PEDRO TRINDADE / LUSA

Este FC Porto de Nuno Espírito Santo pressiona mais e quer roubar a bola rapidamente para chegar ao golo e até tem feito alguns, sobretudo com André Silva, o ponta de lança de 20 anos que é o mais-que-tudo dos adeptos portistas de hoje. A fazerem-lhe companhia estão o mexicano Corona e o brasileiro Otávio, dois miúdos criativos de 23 e 19 anos, e atrás destes três aparecem André André (26 anos), Danilo Pereira (24), Herrera (26) - ou Ruben Neves (19). Todos eles jovens.

Obviamente, por mais que tudo melhore e por melhores ideias que Nuno apresente, isto não chega, é curto, e o FC Porto tem de ir ao mercado. Mas, para o fazer, precisa de dinheiro e para ter dinheiro é preciso vender e vender bem, coisa que o FCP parece não estar a conseguir fazer.

Porquê? Porque à desvalorização natural de um plantel sem títulos acresce a qualidade discutível de alguns dos seus jogadores, como Marcano. O central espanhol é um dos exemplos da má política desportiva da SAD portista que terá agora de reforçar o plantel com imaginação: é preciso um central, um médio e um ponta de lança, pelo menos, para atacar a época com ambição de disputar todas as competições.