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Trump quer petróleo mais barato. OPEP diz... OK
Cartel não queria, mas acabou por fazer a vontade a Trump. Na reunião de Viena nada decidiu sobre cortes na produção e os preços continuaram a cair
Vítor Andrade
Trump twittou e a Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP), mesmo sem querer, considerou. Um dia antes da reunião de Viena, que na quinta-feira reuniu os representantes da OPEP, o Presidente dos Estados Unidos — que não integra aquele cartel — escreveu no Twitter aquilo que a maioria esmagadora das pessoas gostaria de ouvir: “Se tudo correr bem, a OPEP continuará a produzir petróleo como está a fazer, sem restrições. O mundo não quer ver, não precisa, de preços de petróleo mais altos”.
A afirmação de Trump não caiu bem na comitiva que durante a manhã de quinta-feira foi entrando a conta-gotas para a sala de reuniões da sede da OPEP. O que esta organização se propunha decidir em Viena era mais um corte na produção, com o objetivo último de fazer subir os preços do petróleo nos mercados internacionais. É que, nos últimos dois meses, as quebras de preços já superam os 30%.
A montanha pariu um ‘rato’
Ora, acontece que a reunião de Viena não deu praticamente em nada. A OPEP acabou por nada decidir sobre eventuais reduções na produção e, em reação a este desfecho, o preço do barril de petróleo Brent (que serve de referência às compras portuguesas) para entrega em fevereiro encerrou, no final da tarde de quinta-feira, no mercado de futuros de Londres, em baixa de 2,54%, para os 60,12 dólares.
Mas não ficou por aqui. É que na manhã de sexta-feira, a tendência de quebra continuou e o preço do barril de Brent abriu o mercado a valer 59,39 dólares menos 1,21% do que no fecho da sessão anterior.
Este cenário não só agrada a Trump e aos consumidores em geral, como a todos os produtores de shale oil e shale gas (petróleo e gás de xisto) que ganham cada vez mais expressão no mercado norte-americano e que hoje suprimem uma grande parte do consumo interno daquele país, evitando importações. Aliás, os EUA tornaram-se esta semana exportadores líquidos de petróleo após 75 anos de dependência das compras ao exterior.
OPEP não quer petróleo abaixo dos 50 dólares
Ao nível atual de preços, as produções de shale podem perfeitamente manter-se ativas e rentáveis, algo que já não sucederá se o preço do barril cair muito para baixo dos 50 dólares, cenário que a OPEP tudo fará para impedir que aconteça. Na verdade, muito abaixo dos 50 dólares por barril é um contexto que já penaliza fortemente muitos dos membros da OPEP.
Recorde-se que ainda há seis meses, a OPEP acordava aumentos de produção para evitar que os preços do barril de petróleo subissem acima dos cem dólares, mas a discussão agora é à volta de estratégias de redução de produção, no momento em que o preço do barril se aproxima, em queda, de 50 dólares.
A afirmação que Donald Trump fez na passada quarta-feira aconteceu horas depois de o novo Presidente do México, Andrés Manuel Lopez Obrador, ter anunciado a suspensão de novos contratos de exploração de petróleo em território nacional até avaliar a estratégia de investimento internacional no sector. Porque é que isto é relevante? Simplesmente porque o México é o 11º maior produtor de petróleo do mundo e o 13º em termos de exportação. E não integra a OPEP.
Na sexta-feira, o cartel reuniu com representantes da Rússia e de outros importantes produtores petrolíferos.