A tempo e a desmodo

A tempo e a desmodo

Henrique Raposo

Verdade

Contactos do autor

O desastre de Chernobyl diz mais sobre um regime político (comunismo) do que sobre a tecnologia. A lição a retirar da série que dramatizou o desastre não passa pelo boicote à tecnologia nuclear; passa, isso sim, pelo boicote aos regimes políticos que assentam a sua legitimidade na novilíngua, isto é, na mentira.

O que tornou Chernobyl um caso extraordinário foi a fusão do desejo humano pela negação com um regime político que assentava precisamente na negação da realidade e na supressão da verdade

A verdade não depende das nossas palavras

A verdade não depende das nossas palavras

A primeira reação humana a um desastre como Chernobyl é a negação e o riso. Não queremos acreditar. Leva tempo até conseguirmos reconciliar a nossa mente com a realidade. Não foi assim com o 9/11? Esta reação é humana, universal, intemporal. Surge em qualquer país e em qualquer tempo. O que tornou Chernobyl um caso extraordinário foi a fusão do desejo humano pela negação com um regime político que assentava precisamente na negação da realidade e na supressão da verdade. As pessoas sobreviviam na hierarquia comunista através da bajulação e da mentira. Isso é visível na série, é visível em qualquer biografia de qualquer líder da URSS. Se ninguém queria ser o primeiro a deixar de bater palmas no Politburo, ali ninguém queria ser o primeiro a admitir a realidade que já era evidente na Suécia e até Irlanda.

No fundo, “Chernobyl” recorda-nos que a verdade é universal e objetiva, não depende das nossas ideologias e linguagens. Isto é fundamental, porque nas últimas gerações fomos controlados por duas correntes intelectuais (comunismo e pós-modernismo) que destruíram por completo o valor da verdade, quer a verdade enquanto ética universal, quer a verdade enquanto evidência empírica e científica. A verdade existe e não depende de nós, nós não criamos a verdade, só a descobrimos.