ENERGIA

Novo Banco, CGD e o BPI expostos ao risco de falência da espanhola Abengoa

FALÊNCIA Família Benjumea perdeu o controlo da Abengoa, grupo que fundou há quase 75 anos FOTO REUTERS

FALÊNCIA Família Benjumea perdeu o controlo da Abengoa, grupo que fundou há quase 75 anos FOTO REUTERS

Com um passivo de mais de 20 mil milhões de euros e 24 mil trabalhadores, a gigante espanhola das energias renováveis ameaça tornar-se a maior falência da história de Espanha. Há três bancos portugueses com exposição à Abengoa: a CGD, BPI e o Novo Banco. Em causa estão valores entre 30 milhões a 40 milhões de euros

TEXTO ANABELA CAMPOS e ISABEL VICENTE

Fortemente endividada devido aos investimentos nas renováveis que fez em vários países do mundo, a espanhola Abengoa revelou sinais de crise há um ano. Nos últimos dias têm-se multiplicado os apelos dos partidos políticos, governo e executivo andaluz para que os bancos encontrem uma solução para salvar o grupo industrial, à beira da falência.

A Abengoa emprega mais de 24 mil pessoas e tem uma dívida superior a 20 mil milhões de euros. Entrou com um pedido de proteção de credores a 25 de novembro, depois de a Gestamp ter recuado na decisão de entrar no capital da Abengoa.

Das 200 instituições que estão expostas à Abengoa há três bancos portugueses, a Caixa Geral de Depósitos, o BPI e o Novo Banco, segundo revelou na semana passada o jornal espanhola Expansión. No total, a exposição da banca portuguesa à multinacional espanhola de energias renováveis, dizia o Expansión, rondaria os 75 milhões de euros, e o Novo Banco seria instituição maior volume de crédito, com um financiamento na ordem dos 55 milhões de euros. Porém, segundo o Expresso, os valores em causa serão bastante menores. E situar-se-ão em termos globais entre os 30 milhões de euros e os 40 milhões de euros. Fonte oficial do Novo Banco esclarece que créditos “são muito inferiores” aos referidos 55 milhões de euros. A Caixa e o BPI também têm créditos inferiores a 10 milhões de euros cada um referidos pelo Expansión. Os bancos portugueses contactados pelo Expresso não quiseram comentar, nem avançar qual é efetivamente o montante de crédito que concederam à multinacional espanhola.

O banco com maior exposição à Abengoa é o norte-americano Federal Financing Bank (2,2 mil milhões de euros), segue-se o espanhol Santander (1,550 mil milhões de euros).

FOTO REUTERS

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75 anos de história sob ameaça

Espanha está perplexa com a possibilidade de a Abengoa, um grupo com quase 75 anos de história, e que ainda a meio deste ano apresentou uma subida do lucro semestral, estar à beira de colapsar. Se acontecer, será a maior falência de sempre em Espanha. Decisões erradas e a falta de prudência financeira são as razões apontadas para o desastre. A Abengoa, presente em 80 países, endividou-se para avançar com o seu projeto de internacionalização até a níveis considerados insuportáveis. O golpe final surgiu depois da desistência do grupo Gestamp na sua intenção de investir 350 milhões de euros. A Gestamp iria ficar com 28% do capital, e o seu investimento era visto como uma solução salvadora, com o seu recuo caiu por terra a hipótese de o projeto avançar sem apoio.

Dois dias depois do anúncio da decisão da Gestamp, as ações da Abengoa, grupo com sede em Sevilha, desvalorizaram 70%. O grupo tem agora quatro meses para encontrar uma solução. O passivo total da Abengoa, com negócios também na área dos combustíveis e do meio ambiente e água, ascende a 25 mil milhões de euros, dos quais quase 9 mil milhões de euros são dívidas a instituições de crédito e 5,5 mil milhões de euros a fornecedores. Tem ainda obrigações emitidas no valor de 2,7 mil milhões de euros. Os problemas da multinacional começaram a ser notícia em novembro de 2014.

Liderança afastada

Em maio deste ano, Manuel Sánchez Ortega, um dos presidentes-executivos mais bem pagos da bolsa espanhola em 2013, deixou a liderança da Abengoa. Em julho, o grupo anunciou um aumento de 5% dos resultados líquidos para 72 milhões de euros. A sucessão de acontecimentos que aceleraram a queda precipitaram-se em agosto, mês em que a empresa anunciou um aumento de capital de 650 milhões de euros, no âmbito de um plano para reduzir a sua dívida e vender ativos. Adicionalmente, o grupo anunciava um plano de desinvestimento de 500 milhões de euros.

Em setembro, a crise da Abengoa faz rolar a cabeça do seu presidente Felipe Benjumea, há 25 anos no cargo. Uma saída exigida pela banca para apoiar uma solução para o grupo, altamente endividado e a perder credibilidade nos mercados. A Abengoa concordou deixar de pagar dividendos e aceitou vender ativos no valor de 1,2 mil milhões de euros. Estão à venda operações no Brasil, México, Argélia, Gana, Africa do Sul e Emiratos. Entre as operações à venda estão unidades de cogeração, ciclo combinado, concessões hospitalares, fábricas de dessalinização, centrais solares e fábricas de biocombustíveis.

A família Benjumea, que controlava a empresa através da Inversión Corportativa, não teve capacidade de ir ao aumento de capital. E perdeu o controlo da companhia fundada pelo patriarca, Benjumea Puigcerver, há quase 75 anos, para fabricar contadores elétricos.