RICARDO SALGADO
À espera de mais arguidos (de peso) no caso Espírito Santo
DETIDO Ricardo Salgado à saída do Tribunal Central de Instrução criminal em Lisboa, onde foi ouvido na sexta feira FOTO MIGUEL A. LOPES/LUSA
Ministério Público investiga operações financeiras dos seis arguidos do universo Espírito Santo. Há ligações suspeitas à emissão do papel comercial do GES
TEXTO HUGO FRANCO, JOÃO VIEIRA PEREIRA, SÓNIA M. LOURENÇO e JOÃO SILVESTRE
A investigação que o Ministério Público (MP)abriu ao universo Espírito Santo tem sido uma montanha-russa de emoções. O ponto alto é, às 18h00 desta segunda-feira, a revelação oficial dos nomes dos seis arguidos do caso, depois de alguma especulação durante o fim de semana sobre as suas identidades. São eles Ricardo Salgado, José Castella, Isabel Almeida, António Soares, Pedro Luís Costa e Cláudia Boal de Faria. O MP investiga as operações financeiras destes últimos cinco suspeitos que, segundo o Expresso apurou, “são pessoas ligadas à emissão do papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES), bem como aos produtos de poupança do banco”.
Ao contrário de Salgado, que está em prisão domiciliária desde o final de sexta-feira depois de um interrogatório de doze horas no Tribunal Central de Instrução Criminal pelo juiz Carlos Alexandre, não são conhecidas as medidas de coação aplicadas aos restantes cinco arguidos. Eles são suspeitos “dos crimes de falsificação, falsificação informática, burla qualificada, abuso de confiança, fraude fiscal, corrupção no setor privado e branqueamento de capitais”, segundo a Procuradoria-Geral da República.
Não se confirmam, pelo menos para já, as notícias desta manhã de que teriam sido constituídos arguidos neste processo outros membros da família como José Manuel Espírito Santo e Manuel Fernando Espírito Santo. Ou Amílcar Morais Pires, ex-administrador financeiro do BES, e Francisco Machado da Cruz, o controverso contabilista da Espírito Santo International que disse na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à gestão do BES/GES ter apenas obedecido a ordens de Salgado para ocultar a dívida.
Mas nos próximos dias qualquer um destes nomes pode vir a juntar-se à lista oficial de suspeitos dos procuradores que investigam o caso.
Em busca do ‘saco azul’
O nome mais sonante desta lista de arguidos revelado ao Expresso ao início da tarde (a seguir, obviamente, a Ricardo Salgado) é o de José Castella. A 7 de janeiro foi ouvido pela CPI à porta fechada, garantindo aos deputados que obedecia apenas a ordens de Salgado e que desconhecia as contas e objeto social da Espírito Santo Enterprise, uma empresa suspeita pelo MP de servir apenas de fachada para a circulação de centenas de milhões de euros através de offshores espalhados pelo mundo.
Dias depois de ir ao Parlamento, a sua casa e o local de trabalho foram alvo de buscas policiais relacionadas com aquela empresa, tendo os investigadores apreendido vários documentos relacionados com pagamentos não documentados pela Espírito Santo Enterprise: um alegado ‘saco azul’ do GES que está há muito na mira das autoridades. Castella, que terá sido constituído arguido entre janeiro e fevereiro, é considerado uma peça fundamental às investigações que se realizam a todo o universo Espírito Santo.
Os dois arguido mais antigos
Cerca de três meses antes das buscas a casa de José Castella, já Isabel Almeida e António Soares tinham sido formalmente indiciados no mesmo processo. Isabel Almeida foi diretora do departamento financeiro, de mercados e estudos (o equivalente a diretora financeira) do BES, sendo considerada um “braço direito” do antigo administrador Amílcar Morais Pires. Há poucos meses, chegou a ser proposta numa lista para a administração do banco. Já António Soares desempenhou até agosto do ano passado as funções de administrador da seguradora BES Vida. Os dois gestores mantiveram-se em funções depois da queda de Ricardo Salgado e chegaram a estar nos quadros do Novo Banco.
Em janeiro, Isabel Almeida fez declarações consideradas polémicas à CPI: “Tenho a convicção de que Ricardo Salgado tinha todo o conhecimento de todas as operações do departamento financeiro, de que Amílcar Morais Pires lhe comunicava todos esses factos.” E acrescentou nunca ter tomado qualquer decisão relevante sem o conhecimento e o acordo prévio de Morais Pires, que era então o seu superior hierárquico.
Terá sido a própria Isabel Almeida a revelar aos auditores da KPMG um esquema onde o GES seria financiado com dinheiro de clientes do BES, por via de obrigações emitidas e de seguida recompradas pelo banco. Um esquema que o Banco de Portugal viria a classificar de fraudulento.
Os outros dois
Pedro Luís Costa e Cláudia Boal de Faria são os nomes menos conhecidos da lista de seis suspeitos do Ministério Público (que o Expresso não conseguiu contactar em tempo útil). Formada na Universidade Nova de Lisboa, esta gestora era uma subalterna de Isabel Almeida no banco, ocupando o cargo de diretora do departamento de gestão de poupança do BES, era nesta área do banco que era originado o papel comercial das entidades do GES.
Quanto a Pedro Luís Costa sabe-se que é um ex-administrador do Espírito Santo Ativos Financeiros (ESAF). Chegou a ser uma das figuras propostas pelo PSD e CDS para ser ouvido na CPI ao BES/GES, algo que nunca veio a realizar-se. Ainda assim, o nome Pedro Luís Costa foi citado por João Moreira Rato que trabalhou na Nau Capital, uma gestora de fundos do GES detida pela ESAF em Londres: nas palavras do ex-administrador do BES, foi Pedro Luís Costa quem montou a equipa da Nau Capital na capital britânica. Ainda segundo Moreira Rato, em 2011 a Nau Capital vendeu o único fundo que tinha à Eurofin.