APANHADO A VENDER SEGREDOS
O espião português que tem a vida (quase) toda no facebook
FOTO REUTERS
Agente do SIS foi detido por suspeitas de espionagem a favor da Rússia - detenção aconteceu sexta-feira, autoridades confirmaram segunda-feira. Tinha, e continua a ter, uma página no Facebook em que publica fotografias suas atuais e antigas, fotos de viagens a vários países de Leste e imagens da história da Rússia. Quem disse que um espião tem de ser discreto?
TEXTO RUI GUSTAVO e LUÍSA MEIRELES
Frederico Carvalhão Gil, o agente do SIS suspeito de passar informação confidencial a um agente russo, tem uma página no Facebook em nome pessoal, com várias imagens da Rússia, da família do último czar e de bailarinas russas vestidas como princesas. O agente secreto mostra várias fotos suas, atuais e quando era mais novo, e com alguma paciência é até possível traçar um roteiro das suas últimas viagens: Albânia, Geórgia, Ucrânia e, talvez, Rússia.
Um antigo elemento dos serviços que não quer ser identificado explica que o principal arguido da Operação “Top Secret” começou por violar as mais elementares regras do bom senso: “Não é suposto que um operacional dos serviços de informação se exponha em redes sociais acessíveis a qualquer pessoa”. Carvalhão Gil, que foi detido na última sexta-feira, em Roma, quando se preparava para trocar informação com um cidadão russo a troco de dinheiro, nem sequer usava as ferramentas de privacidade do Facebook: qualquer pessoa pode aceder às fotos e aos posts que publicou ao longo dos últimos anos. “Esses meios podem e devem ser utilizados pelos agentes, mas no contexto da atividade dos serviços e não à sua revelia”, insiste a mesma fonte. Contudo, o Expresso sabe que há indicações informais dos serviços em relação a este ponto: as redes sociais podem ser usadas pelos agentes em nome pessoal desde que não exponham a sua atividade.
Carvalhão Gil está nos SIS desde a fundação dos serviços, ainda nos anos 80. Chegou a ser chefe de divisão, mas foi demitido do cargo de chefia no final dos ano 90 na sequência de uma “viagem de estudo” com um grupo que tinha acabado o curso. “Acompanhou-os ao estrangeiro e teve um comportamento pouco profissional”, explica outra fonte. “Devia acompanhá-los mas preferiu fazer turismo com uma senhora que o acompanhou.” A senhora em questão era uma namorada georgiana com quem Carvalhão Gil tinha uma relação afetiva. Uma fonte conhecedora do processo conta que o agente aceitou a punição e passou a trabalhar na recolha e análise de informação.
O “Observador” conta que Carvalhão Gil mudou de comportamento quando passou, primeiro, por um divórcio e depois por um susto relacionado com a saúde. Passou a andar de rabo-de-cavalo e fazer vida noturna.
A acreditar nos indícios recolhidos pela investigação da PJ, no último ano terá passado - e mais do que uma vez - informação classificada aos russos a troco de dinheiro. O “Público” diz que cada informação valia 10 mil euros. O caso foi descoberto pelo chefe das secretas, Júlio Pereira, que denunciou o agente à PJ. Carvalhão Gil está preso. A página do Facebook continua ativa.