SEXUALIDADE

Addyi, o comprimido do desejo feminino foi aprovado

TRATAMENTO É cor-de-rosa e deve ser tomado todos os dias, ao deitar. O efeito não é imediato FOTO D.R.

TRATAMENTO É cor-de-rosa e deve ser tomado todos os dias, ao deitar. O efeito não é imediato FOTO D.R.

A autoridade norte-americana do medicamento deu luz verde ao primeiro tratamento para a falta de desejo sexual feminino. Ainda não há data para a chegada a Portugal

TEXTO RAQUEL MOLEIRO

É cor-de-rosa, deve ser tomado um por dia, à noite, ao deitar, e os efeitos começam a surgir após algumas semanas de tratamento. Addyi (nome comercial do Flibanserin) é o primeiro medicamento especificamente criado para tratar a falta de desejo feminino, aprovado na madrugada de quarta-feira pela autoridade norte-americana do medicamento (FDA).

Deverá chegar às farmácias em outubro – cada frasco de 30 comprimidos custará entre 27 a 67 euros -, mas só nos Estados Unidos da América. O laboratório Sprout Pharmaceuticals revela que a comercialização em mercados estrangeiros está na lista de prioridades, mas ainda não existem datas nem prazos para tal, tanto mais que a disseminação exige uma nova candidatura e um novo aval. Certo é que não será para breve, nem será fácil. Mesmo em solo norte-americano, o Addyi passou por 68 ensaios clínicos em mais de dez mil mulheres, foi chumbado por duas vezes, em 2010 e 2013, por se considerar que os benefícios eram demasiado modestos para compensar os efeitos secundários.

As alterações entretanto introduzidas no medicamento permitiram que, em Junho, fosse recomendado por um painel de especialistas (18 contra seis), e a FDA seguiu-lhes o conselho. Ainda assim, só pode ser prescrito ou dispensado por médicos e farmacêuticos, obrigados para tal a assistir a uma apresentação online sobre o fármaco e a passar com nota positiva num teste de compreensão. Os efeitos secundários acentuados obrigam a que cada frasco tenha no interior uma bula explicativa – nos EUA esta é a medida de segurança mais elevada -, onde se alerta para o perigo da toma combinada com a ingestão de bebidas alcoólicas, que pode aumentar o risco de pressão arterial muito baixa e a ocorrência de desmaios. A medicação deve ser interrompida se não for registado um aumento da libido após oito semanas.

“Esta aprovação dá às mulheres afetadas pela falta de desejo sexual uma opção de tratamento”, afirmou Janet Woodcock, diretora do centro de avaliação e investigação da FDA, durante o anúncio da entrada do Addyi no mercado. “Estamos empenhados no apoio ao desenvolvimento de tratamentos eficazes para a disfunção sexual feminina”, acrescentou.

Não lhe chamem viagra

Conhecido como o Viagra feminino, o Flibanserin nada tem a ver com o comprimido azul. O Sildenafil (substância ativa do Viagra) não aumenta o desejo sexual mas a excitação, uma vez que é vasodilatador, irrigando o pénis para estimular a ereção. Já o comprimido cor de rosa potencia a libido, atuando diretamente no cérebro, sendo indicado para mulheres em pré-menopausa. O medicamento reduz a serotonina, um neurotransmissor que inibe a resposta sexual, e faz aumentar os níveis de noradrenalina e de dopamina, conhecida como a amina do prazer e do amor.

“Eventualmente poderá funcionar para algumas mulheres, no caso de haver um desequilíbrio ao nível destes neurotransmissores. Mas, na generalidade dos casos, as causas da falta de desejo são tão variadas e complexas que é utópico pensar que uma única substância pode resolver o problema”, explicou ao Expresso Rui Costa, investigador do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA).

Segundo o psicólogo clínico e sexólogo Jorge Cardoso, a falta de desejo sexual, a par da ausência parcial ou total de orgasmo, tende a ser a ser a queixa mais frequente das mulheres. “Fisiologicamente pode estar tudo bem, mas o desejo não aparece. Ao contrário do que acontece nos homens, é difícil atuar ao nível da farmacologia, já que o problema está muito dependente de questões emocionais, como a qualidade da relação, a sintonia com o parceiro, a perceção de um sentimento negativo, um ressentimento ou uma mágoa”, explica.