RUÍDO NA REDE
PARA QUE É QUE A MICROSOFT QUER O MINECRAFT?
PEDRO OLIVEIRA
O que leva a maior empresa de software do mundo a desembolsar 2,5 mil milhões de dólares por uma produtora jogos sueca? A resposta é mais complexa do que pode parecer a princípio e não se resume apenas à compra do jogo Minecraft.
A Microsoft concretizou hoje a compra da Mojang, a produtora do jogo Minecraft. O negócio foi fechado por 2,5 mil milhões de dólares num movimento que dá à empresa de Redmond o acesso direto a uma base instalada de jogadores que supera os 50 milhões utilizadores ativos. O melhor? A maioria dos jogadores de Minecraft é muito jovem. Esta compra pode, por isso, dar à Microsoft o acesso a uma vasta comunidade de utilizadores que acede a este jogo a partir de dispositivos móveis – área onde a empresa do Windows continua a não conseguir ganhar quota significativa. Mas a Mojang tem mais para oferecer.
A produtora de jogos criada por Markus Notch Alexej Persson (autor do jogo) obteve um lucro de 126 milhões de dólares o ano passado (com receitas de 289 milhões). Os números impressionam mais se tivermos em consideração que a Mojang tem apenas 28 funcionários. O modelo de negócio da empresa baseia-se na venda de jogos e de merchandise. Em Portugal, o jogo custa 19 euros para consola e perto de 6 euros para tablets e smartphones. Aliás, por cá, Minecraft Pocket Edition, lidera as vendas na Google Play e na App Store. Nos EUA está no Top 5 em ambas as lojas eletrónicas.
Com o negócio a ser concluído no final deste ano, deixam a empresa os três fundadores. O mais polémico e severo crítico da Microsoft, Markus Persson, recusou-se a fazer uma versão do Minecraft para o Windows 8 chegando a fazer algumas afirmações polémicas no Twitter. “Se recusar uma versão para Windows 8 talvez convença as pessoas a não mudarem para esse sistema”, escreveu.
O que é o Minecraft?
É um dos jogos mais populares dos últimos cinco anos. O título criado pelo sueco Markus Notch Alexej Persson já vendeu mais de 56 milhões de cópias desde que foi lançado, primeiro para PC, em 1999. Depois, o título foi desenvolvido para Xbox 360, PS3 e, finalmente, para dispositivos Android e iOS.
Basicamente, Minecraft abre as portas a um mundo totalmente aberto onde é possível criar as estruturas que se quiser utilizando (e minerando) os recursos disponíveis. A melhor imagem é a de peças de Lego que vão sendo sobrepostas para criar os objetos mais incríveis. Basta ir ao YouTube e fazer uma busca por “amazing buildings minecraft” para ver a complexidade (e as horas gastas) dos edifícios que é possível criar (ou recriar) dentro do jogo. A Ponte 25 de Abril, a Torre Eiffel ou o Titanic são alguns dos objetos que já foram “construídos” usando as peças de Minecraft.
Este não é um jogo de orçamento elevado ou com gráficos de última geração. Aliás, o primeiro impacto com os ambientes desenhados pela Mojang remete-nos para os primórdios do desenvolvimento de jogos – tal é a baixa qualidade dos elementos gráficos. No entanto, a elevada jogabilidade e a possibilidade de jogar-se online com outros fãs do título, fazem de Minecraft um sucesso. Quando o experimentei pela primeira vez fiquei muito pouco entusiasmado. Afinal, estava a jogá-lo numa consola de última geração, na altura, e via gráficos dignos de um ZX Spectrum. Coletar, coletar, coletar… lutar, lutar, lutar… construir, construir, construir. O ritmo do jogo não varia muito e exige muito tempo de dedicação. Não é, definitivamente o meu tipo de jogo. Mas não é o meu perfil que a Microsoft quer (até porque já o tem via outros dispositivos).
A primeira vez de Nadella
Esta não é a primeira vez que a Microsoft compra uma produtora de jogos. Comprou a Bungie que produz Halo – o jogo mais bem-sucedido da Xbox – e adquiriu, por exemplo, a Lionhead Studios (de Peter Molyneux, um dos maiores criadores de jogos de sempre) para produzir em exclusivo a série de jogos Fable. Aliás, a empresa já se deve ter arrependido de ter deixado sair a Bungie em 2007. Esta é a produtora que acaba de lançar Destiny: o jogo mais caro de sempre que teve um orçamento perto dos 500 milhões de dólares mas que, no dia do lançamento, fez vendas nesse valor.
A aquisição da Mojang é a primeira grande compra de Satya Nadella desde que assumiu o cargo de CEO da Microsoft. A decisão pode parecer algo surpreendente visto Nadella sempre ter confessado que a divisão da Xbox não era a sua prioridade. O homem que substituiu o carismático Steve Ballmer tem apostado tudo na mobilidade. E, por isso mesmo, esta compra faz sentido. Afinal, Minecraft é muito jogado em dispositivos móveis. Além disso, com o jogo na mão, a Microsoft pode fechá-lo dentro da Xbox (embora hoje tenha dito que não) numa estratégia de trazer mais jogadores para dentro do universo da consola que já liderou o mercado, mas que cedeu, o ano passado, o primeiro lugar para a Playstation.
Mas o maior potencial de Minecraft é responder a um dos atuais objetivos de Nadella que consiste na uniformização da experiência Windows. A próxima versão deste sistema vai garantir uma experiência igual quer esteja a usar um PC, um telefone, um tablet ou a Xbox. Uma integração que traz o utilizador para dentro de um ecossistema onde é possível aceder aos mesmos conteúdos (e experiência) independentemente do dispositivo que se esteja a usar a cada momento.
Minecraft, disponível em todas as plataformas, tem tudo para cumprir esta premissa. Se o negócio se concretizar, vai ser possível ao jogador navegar dentro do mundo que criou em qualquer altura e em qualquer local. Quando for no metro, por exemplo, pode continuar a construir o mundo usando o ecrã tátil do smartphone com a garantia de que, ao chegar a casa, vai conseguir ver a evolução no televisor da sala usando o computador, tablet ou a Xbox.
Aliás, Minecraft, é mais do que um jogo. É uma plataforma onde a Microsoft pode criar mais conteúdos e onde os miúdos podem, até, vir a aprender a programar. Por tudo isto, se a compra se confirmar, a empresa norte-americana não fica apenas com uma produtora de jogos. Fica, essencialmente, com mais uma peça de Lego para juntar à construção da visão que Satya Nadella tem para uma nova Microsoft.