ALUNOS DE EXCELÊNCIA

Mentes brilhantes

AMBIÇÕES Beatriz Ribeiro Alves quer ser engenheira aeroespacial; Inês Pedro Fernandes sonha com gerir informação sobre a economia mundial e Mariana Malonek deseja ser médica

AMBIÇÕES Beatriz Ribeiro Alves quer ser engenheira aeroespacial; Inês Pedro Fernandes sonha com gerir informação sobre a economia mundial e Mariana Malonek deseja ser médica

Três jovens mulheres, todas de 17 anos e todas do Norte do país, obtiveram as melhores notas de entrada nas universidade portuguesas este ano: entre 19,92 e 20 valores. Uma quer ser ser gestora de informação numa instituição internacional, outra engenheira aeroespacial e a terceira médica. Havia um rapaz, mas trocou engenharia de computação na Universidade do Porto pela de Manchester

TEXTO CARLA TOMÁS

O gosto pelo conhecimento, a importância de estar atento nas aulas, ter bons professores (seja em escolas públicas ou privadas) e ter pais licenciados que estimulam a aprendizagem, fazem parte da equação que leva os melhores alunos do país a atingirem uma média entre 19,9 e 20 valores.

Estes são, pelo menos, os denominadores comuns entre Inês, Beatriz e Mariana, as três alunas com média mais alta que entraram esta semana em universidades portuguesas. Havia também um rapaz, Carlos Gomes, que entrou para Engenharia Informática e Computação na Universidade do Porto, com 20 valores. Porém, Carlos optou pela Universidade de Manchester, em Inglaterra.

Ao Expresso as três jovens, todas de 17 anos e naturais do norte do país, revelaram um pouco da sua história e das suas ambições.

FOTO DR

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Inês Pedro Fernandes, 20 valores

“É fascinante entender o puzzle da economia mundial”

“Se estivermos atentos nas aulas e colocarmos todas as questões, depois é muito mais fácil rever a matéria sem ter de estudar muito”, afirma convicta Inês Pedro Fernandes, justificando assim, de forma simples, porque é uma boa aluna. “Ah”, acrescenta. “E sempre tive bons professores e interessados pelos alunos”, sublinha a jovem de 17 anos que estudou na Escola Secundária Francisco de Holanda, em Guimarães.

Esta semana rumou ao Sul e inscreveu-se no curso de Gestão de Informação na NOVA Information Management School. Foi a primeira colocada, com média de 20 valores. E é a única a entrar numa universidade portuguesa com um 20 redondo, já que o outro único jovem a obter nota idêntica, Carlos Gomes, trocou a Faculdade de Engenharia do Porto pela de Manchester.

Porém, Inês pode vir a seguir um caminho semelhante e trocar Lisboa por Boston ou San Diego, atravessando o Atlântico em direção aos Estados Unidos, onde se candidatou a uma bolsa numa das universidades da Ivy League, entre as quais Harvard. “Gostava de seguir os meus estudos nos Estados Unidos, porque é um sonho e porque esta área de conhecimento é muito valorizada lá. Mas se não entrar agora, posso sempre vir a tentar o mestrado ou o doutoramento”, diz confiante. “A diferença é entre o ótimo e o perfeito.” Contudo, se não emigrar, não tem dúvidas de que cá também pode “ter uma formação ótima”. E reforça: “A Nova é das melhores universidades do mundo, não só pela excelência académica, como pelo ambiente universitário.”

Natural do Porto, filha de médicos, Inês viveu em Guimarães desde os cinco anos. Andou no ballet e na natação, mas ultimamente só frequentava o ginásio para se manter em forma. A leitura como lazer está longe de ser um passatempo de eleição. Prefere a música de gerações anteriores: Frank Sinatra e Queen.

Quanto ao futuro, não há bolas de cristal, mas há ambição. Gostava de vir a trabalhar numa instituição como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu ou a OCDE. Considera “fascinante entender o modo como as economias de diferentes países funcionam. Como um puzzle”.

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Beatriz Ribeiro Alves, 19,95 valores

“Adorava revolucionar a ciência de algum modo”

“O conhecimento é das coisas mais fascinantes, porque conhecer dá poder ao ser humano” — é com esta ideia que Beatriz Alves, do alto dos seus 17 anos, explica porque escolheu enveredar pela área científica. A jovem, natural de Paços de Ferreira, entrou agora para o curso de Engenharia Aeroespacial com 19,95 valor. E logo numa das primeiras apresentações no Instituto Superior Técnico fixou uma das ideias transmitidas por um professor: “Um engenheiro é alguém que através das leis da física tem a capacidade de pegar na natureza e construir o que a natureza não construiu.”

Filha de economistas, frequentou o externato Ribadouro, no Porto, de onde saiu com média de 20 valores. Estar atenta nas aulas e perceber a matéria em geral primeiro, antes de se concentrar nos pormenores, foi o método seguido para alcançar as boas notas. “Claro que também estudei muito para os exames”, admite. E desaconselha: “Estudar a noite inteira e ir fazer um exame é um erro, porque se cometem distrações quando estamos cansados.”

Mas não é só nos estudos que se concentra. Gosta de ler. E entre os livros preferidos que lhe saltam de repente à cabeça está “As Intermitências da Morte”, de José Saramago, porque a fez “pensar como nunca tinha pensado na morte como uma realidade natural e não assustadora”. Como outras jovens da sua idade, também gosta de música e este ano foi pela primeira vez ao Festival de Paredes de Coura, ver especialmente a banda americana “Cage the Elephant”.

Beatriz deixou para trás a veia artística e as aulas de ballet que frequentava três vezes por semana e projetou a criatividade para “construir coisas úteis”. Como sonho, “adorava que o trabalho que vier a desenvolver revolucione a ciência de algum modo”. E entre as suas ambições está a de “ajudar a preparar uma missão espacial que permita descobrir algo completamente novo”. Como vida extraterrestre? “Com uma galáxia tão grande e planetas tão mais antigos, porque não haverá vida além da Terra?” — responde sem dúvidas.

Agora tem uma nova vida pela frente e pela primeira vez viverá longe dos pais e da irmã gémea, que entrou para medicina no Porto (entrou com mais de 19 valores). É uma nova etapa de vida, ou como diz, “uma forma de aprender a ser mais independente”.

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Mariana Rocha Malonek, 19,92 valores

“Fascina-me o corpo humano e o contacto com as pessoas”

Natural do Porto, Mariana Malonek vai continuar a estudar na Invicta. Só que agora em vez de continuar no Colégio Alemão, passará a frequentar a Faculdade de Medicina do Porto, a sua primeira escolha. Foi a primeira colocada neste curso com 19,92 valores.

Humilde, a jovem de 17 anos sublinha: “Posso ter sido a melhor a entrar, mas vamos começar todos do zero e vamos ter todos os mesmos desafios.” Ser boa aluna também depende de “não sair das aulas com dúvidas”. Este sempre foi o seu lema e vai continuar a ser. Tal como outro que não se cansa de repetir: “Viver um dia de cada vez.”

Desde os cinco anos que Mariana toca violino e espera continuar a ter tempo para esta atividade artística de que não prescinde, tal como diz não prescindir dos amigos.

Filha de professores universitários — ambos matemáticos, a mãe portuguesa, o pai alemão — chegou a pensar seguir para o curso de Matemática, mas optou por Medicina porque o corpo humano “sempre” a “fascinou”, tal como “a componente do contacto com as pessoas”. Não sabe ainda que especialidade irá seguir mais tarde, mas “pediatria pode vir a ser uma opção neste mundo que é a medicina”.

A hipótese de ir estudar para a Alemanha chegou a ser equacionada. Mas refletiu melhor: “Acho que o curso de Medicina é melhor em Portugal que na Alemanha.” Ao mesmo tempo admite que ainda não se sentia preparada para sair do país natal e da proximidade de família e amigos. “Talvez mais tarde”, diz. Um dia de cada vez.