SEGURANÇA

Mais polícias e armas à vista no Primavera Sound: PSP estreia nova forma de policiamento

Imagem do Primavera, na última semana, em Barcelona. A partir desta quinta-feira, é no Porto Foto EPA/Alejandro Garcia

Imagem do Primavera, na última semana, em Barcelona. A partir desta quinta-feira, é no Porto Foto EPA/Alejandro Garcia

Depois dos atentados no Bataclan de Paris e em Manchester, a PSP decidiu reforçar o número de efetivos e em todos os festivais e concertos. Durante os três dias do Primavera Sound, que arranca quinta-feira no Porto, e no concerto de Ariana Grande, domingo, em Lisboa, haverá reforço de efetivos, revistas mais apertadas e mais armas à vista.
- No fim desta página leia o texto "Elza Soares e outros segredos e revelações do NOS Primavera Sound", e consulte o programa do Festival

Texto ISABEL PAULO

Depois do atentado terrorista na Arena de Manchester, no final de um concerto de Ariana Grande, a 22 de maio último, a PSP optou por reforçar as medidas de segurança em espetáculos de grandes aglomerados de multidão, uma estratégia preventiva que já vinha a ser seguida gradualmente na sequência do ataque no Bataclan, em Paris, durante o concerto dos Eagles of the Death Metal, no final de 2015.

Embora não divulgue o número de agentes que estarão, a partir de quinta-feira, no Parque da Cidade, palco da sexta edição do NOS Primavera Sound, no Porto e domingo no concerto de Ariana Grande, no MEO Arena, em Lisboa, o intendente Hugo Palma avançou ao EXPRESSO que foram mobilizados para os dois eventos um maior contingente policial e mais meios de controlo de segurança.

Face aos últimos atentados terroristas, o diretor do Gabinete de Relações Públicas da PSP afirma que, além do reforço de efetivos, mudou, sobretudo, a abordagem das forças policiais nos espetáculos que arrastam multidões, passando de uma estratégia de “discrição para uma postura de alta ostentação” dos operacionais em serviço.

Hugo Palma explica que, até há pouco tempo, a atitude dos agentes em eventos e festivais era não darem nas vistas: “Pretendia-se que a sua presença fosse efetiva para acautelar riscos ou desacatos, mas não intrusiva ao ponto de inibir a fruição das pessoas no espaço público.”

A abordagem agora será “de maior visibilidade de fardas e equipamentos”, refere Hugo Palma, a começar pela presença de mais efetivos com “coletes à prova de bala e portadores de metralhadoras e shotguns”. Apesar de a PSP garantir que no NOS Primavera Sound, que decorre quinta, sexta e sábado, no Parque da Cidade, não foi “identificada qualquer ameaça ou risco que coloque em causa a segurança”, o mesmo sucedendo em relação ao concerto em Lisboa, no Meo Arena, haverá ainda entre a multidão um maior número de agentes à civil.

Revistas de entradas à lupa

Entre as recomendações da PSP nacional para aos organizadores dos eventos musicais deste fim de semana, bem como para os restantes festivais de verão, contam-se ainda “revistas mais pormenorizadas nos controlos de entradas”, asseguradas por empresas de segurança privada, com cuidado minucioso aos conteúdos de mochilas, sacos e malas. Além destas orientações, a organização do NOS Primavera Sound não prevê medidas excecionais de segurança.

Outro dos conselhos aos espectadores é o de não serem portadores de mochilas volumosas, pedido que já acontece, por exemplo, aos frequentadores de recintos desportivos, nomeadamente nos jogos de futebol, “por implicar atrasos nas revistas de entrada”. Por último, no licenciamento dos espetáculos vigora ainda como medida preventiva a limitação de circulação automóvel ou corte de trânsito em momentos de maior afluência de entradas, nas imediações do acesso aos recintos dos eventos.

Uma medida confirmada ao Expresso pela PSP do Porto, que limitará a o trânsito na estrada da Circunvalação, na ao acesso de entrada do público, situado ao fundo do Parque da Cidade, junto à Praça Cidade Salvador, na fronteira com Matosinhos. Na edição deste ano do Primavera Sound, que este ano conta com Bon Iver, Apphex Twin e Justice como cabeças de cartaz, são esperados 80 mil espetadores, 20 mil dos quais estrangeiros.

Para esclarecer dúvidas e apoiar os festivaleiros, a Associação de Turismo do Porto e Norte (ATP), através do Visit Porto., lançou, em parceria com a organização do Primavera Sound, um serviço de atendimento via WhatsApp. O serviço estará disponível a partir de hoje, entre as 10h e as 22h, através do número +351 933 720 562.

Tal como nas edições anteriores, o festival volta a associar-se aos STCP, com ligação direta de autocarros entre os Aliados e a Praça cidade Salvador, funcionando, fora do horários regulares, das 1h às 5h, dia 8, e das 1h às 7, nos dias 9 e 10.

CULTURA

Elza Soares e outros segredos e revelações do NOS Primavera Sound

Foto DR

Foto DR

De amanhã a sábado, todos os caminhos levarão os melómanos ao Parque da Cidade do Porto. Acompanhe-nos nesta visita guiada às pérolas do cartaz do festival da Invicta, com destaque para o “samba sujo” da brasileira Elza Soares – que nos deu uma entrevista.

Texto Lia Pereira

Quando, no ano passado, Elza Soares foi anunciada como um dos ‘cabeças de cartaz’ do lisboeta Vodafone Mexefest, ou seja, como um dos artistas desse festival que iriam atuar no Coliseu dos Recreios, muitos terão ficado surpreendidos. A razão da ‘convocatória’ tornar-se-ia, porém, bem clara quando a sala nobre de Lisboa encheu para aplaudir a brasileira, cuja idade permanece um mistério mas cujo trajeto começou na alvorada da década de 60. Graças ao álbum “A Mulher do Fim do Mundo”, lançado em 2015 mas alvo de edição internacional no ano passado, a veterana foi descoberta por uma nova geração e saiu do coliseu tão enamorada do público português que ainda hoje se recorda daquela noite de novembro. “Foi lindo! Inesquecível!”, lembra agora. “O público português é altamente fixe!”, garante, entre risos. “Quando estive em Portugal, a produção ensinou-me o significado desta [expressão] e eu adorei: altamente fixe!”, repete, divertida.

A 10 de junho, Elza regressa ao nosso país para atuar no NOS Primavera Sound, o festival que se realiza pelo sexto ano consecutivo no Parque da Cidade, no Porto. Tal como Caetano Veloso em 2014, a cantora poderá parecer deslocada no cartaz de um festival sobretudo indie, mas afiança que o seu tempo é agora. Sobre o facto de alguns dos seus temas terem sido remisturados pelos portugueses DJ Marfox e Nídia Minaj, comenta: “adorei, lógico! Eu sou essa mistura de afro/samba/jazz/eletrónico. Porquê fazer igual a todo o mundo, repetindo a mesma fórmula? Sou a favor do novo”, afirma. “Novos sons, novos alvos, novos ares… Eu sou NOW!”, resume, lembrando que “A Mulher do Fim do Mundo” é fruto da colaboração “com esses meninos que produzem o que há de mais moderno na música moderna brasileira! Sou tão louca que, além deste meu show, tenho outro que se chama ‘A Voz e a Máquina’: somente eu e dois DJs no palco, uma loucura total! Adoro flirtar com o eletrónico”.

Sobre o rótulo de “samba sujo” que lhe surge associado, Elza brinca: “se é sujo ou limpo, [só] sei que me quero lambuzar até à alma! É exatamente esta mistura de guitarra, percussão, bateria, pandeiro e eletrónica que eu gosto! E tenho recebido elogios tanto desta juventude que me segue como da turma da minha geração”, sublinha. Tendo crescido num meio paupérrimo, no Rio de Janeiro, Elza casou pela primeira vez aos 12 anos, por ordem do pai. Aos 21 ficava viúva, com cinco filhos por criar. Ainda assim, conseguiu encetar uma carreira de relevo, e aos 32 conheceu o futebolista Garrincha, de quem teria mais um filho. Dos seus seis filhos, cinco morreram, quase sempre em circunstâncias trágicas. “Já vivi tantas coisas que muitas vezes nem eu mesma acredito”, confessa. “Sinto-me somente uma operária da música. Sei o meu valor e sei o que caminhei para chegar aqui, mas não me acho nada de mais. Sou muito pé no chão”, garante. “Tenho percebido que tanto as mulheres como os negros e os gays encontraram no meu trabalho identificação e fico feliz por ser porta-voz destas pessoas que são oprimidas pela sociedade. Identifico-me com as suas lutas de cada dia”.

Outras luzes

Atualmente a preparar um novo disco, Elza Soares será um dos nomes a não perder no sábado do NOS Primavera Sound. Também a 10 de junho, e no que toca a potenciais surpresas de artistas relativamente distantes dos holofotes, destaque para os californianos Death Grips. A banda de hip-hop experimental, conhecida pela intensidade das suas atuações, fará no Porto a estreia em Portugal; em 2012, esteve confirmada no cartaz deste mesmo festival, acabando por cancelar. À Invicta, trarão “Bottomless Pit”, lançado em 2016, depois de uma falsa ameaça de fim. No mesmo dia, pode esperar a imprevisibilidade dos Black Angels, os blues do Mali dos Songhoy Blues, a cantora-compositora Mitski, de quem muito se tem falado, e Sampha, uma das maiores revelações da temporada. Natalie Merling, mais conhecida como Weyes Blood, lançará o seu perfume no Parque da Cidade; no final do ano, voltaremos a vê-la, na primeira parte de Father John Misty no Coliseu de Lisboa. Neste dia, o remate final do palco principal será feito ao som da eletrónica de Aphex Twin.

Na quinta-feira, dia 8, os Run the Jewels regressam ao festival onde foram felizes há dois anos, para consolidarem a sua coroa hip-hop, e os Cigarettes After Sex mostrarão o muito aguardado primeiro álbum, lançado este ano. Quem encabeçará a noite são os franceses Justice.

A 9 de junho, além dos ‘campeões’ Angel Olsen e Bon Iver, destaque para o regresso de Hamilton Leithauser ao Porto (por cá passou com os Walkmen, em 2012), para o frenesi psicadélico dos King Gizzard & the Lizard Wizard e para as preces iradas dos britânicos Sleaford Mods. Os Swans, de Michael Gira também farão ‘ruído’ no parque.

CARTAZ E HORÁRIOS

Quinta-feira, 8 de junho

Palco NOS
17h55 - Cigarettes After Sex
20h00 - Miguel
22h20 - Run The Jewels
00h45 – Justice
 
Palco Super Bock
17h00 - Samuel Úria
18h50 - Rodrigo Leão & Scott Matthew
21h10 - Arab Strap
23h30 - Flying Lotus

Sexta-feira, 9 de junho

Palco NOS
17h55 - Pond
19h50 - Angel Olsen
22h15 - Bon Iver
01h00 - Nicolas Jaar
 
Palco Super Bock
17h00 - First Breath After Coma
18h50 - Whitney
21h00 - Teenage Fanclub
23h55 - Skepta

Palco .
17h45 - Jeremy Jay
19h00 - Royal Trux
20h30 - Sleaford Mods
22h00 - Swans
01h00 - King Gizzard & the Lizard Wizard

Palco Pitchfork
21h00 - Nikki Lane
00h00 - Hamilton Leithauser
01h20 - Cymbals Eat Guitars
02h45 - Richie Hawtin
04h15 - Mano Le Tough
 

Sábado, 10 de junho 

Palco NOS
17h45 - Evols
19h50 - Growlers
22h10 - Metronomy
00h30 - Aphex Twin
 
Palco Super Bock
17h00 - Núria Graham
18h30 - Elza Soares
21h00 - Sampha
23h20 - Japandroids

Palco .
17h45 - Songhoy Blues
20h30 - Shellac
22h00 - Death Grips
23h30 - Make-Up
01h00 - Black Angels

Palco Pitchfork
21h00 - Mitski
22h30 - Weyes Blood
00h00 - Operators
02h45 - Tycho
04h00 - Bicep
05h00 - Marc Piñol