Opinião
João Vieira Pereira
A confirmação da asneira
Sim, as previsões falham. Tanto que as anedotas sobre economistas e os seus erros amontoam-se. O economista norte-americano Edgar Fiedler tinha talvez a melhor posição sobre esta mania dos economistas tentarem prever o futuro. Ele simplesmente deixava um conselho: “If you have to forecast, forecast a lot.”
E é por falharem tanto que a melhor piada sobre economistas é aquela que os define como alguém que é especialista em saber amanhã porque é que as coisas que ele previu ontem não se concretizaram hoje.
Mesmo assim as previsões são importantes, acima de tudo porque definem uma tendência. E a tendência para a economia portuguesa está longe de ser a ideal.
Orgulhosamente sós, somos fantásticos. A economia poderá ter crescido 2,7% no ano passado. Um valor elevado e já muito perto das taxas de crescimento anuais que precisamos de manter durante as próximas três décadas para resolver o tamanho colossal da nossa dívida. A exportações estão a crescer, as importações também (mas não de forma descontrolada), o desemprego em queda e a inflação em valores comportáveis.
Só que nós não estamos sós, fazemos parte de uma união económica. E, dentro dessa, de uma união monetária. Todo o nosso crescimento tem de ser comparado com o dos nossos parceiros. E é aqui que começam os problemas.
Convergimos, pouco mas convergimos, com a média dos países da UE a 27 (excluo o Reino Unido, por razões óbvias) no ano passado. O que foi ótimo. Exatamente… foi. No próximo ano deixaremos de convergir com a União Europeia e até com a Zona Euro.
Aliás, dentro dos países da moeda única só a Bélgica, a Franca e a Itália vão crescer menos que Portugal. De acordo com as previsões de inverno da Comissão Europeia, voltamos em 2018 ao nosso estado normal, o da constante divergência económica.
Cada ano que passa afundamo-nos, consolidando a nossa posição nos últimos lugares da tabela dos mais ricos.
A política económica tem de mudar radicalmente. A crítica não é apenas a este governo, mas a quase todos. Aliás o atual governo nem política económica tem. Vive dos escombros da politica da austeridade assente na restituição de rendimentos. Ou seja, focado apenas na questão financeira e longe das empresas e do que é necessário para aumentar o nosso PIB potencial.
Quando o ex-líbris do sucesso económico português é um investimento da Google numa espécie de agregador de fornecedores, e que vai juntar 535 pessoas em Oeiras, não é preciso dizer mais.
É claro que a esquerda no poder, perante este deserto, já anda a vender que se está a formar a tempestade perfeita nos mercados financeiros. Uma espécie de pré-desculpa para o desastre que está anunciado.
Sem a capacidade de termos um tecido produtivo competitivo, assente em produtos e serviços de elevado valor acrescentado, seremos sempre os coitadinhos da Europa. Uma economia assente em velhos, pensionistas e turismo não vai a lado nenhum a não ser para o abismo.
Se nada for feito em menos de dez anos estaremos outra vez na bancarrota. Sim é uma previsão. Mas esta dificilmente algum economista arriscará a dizer o contrário.