CRIME

Resquícios de sangue no sofá elucidaram tragédia grega em solo brasileiro

CRIME As circunstâncias em que o carro do embaixador grego no Brasil foi encontrado

CRIME As circunstâncias em que o carro do embaixador grego no Brasil foi encontrado

Um sofá, símbolo de relações extraconjugais, foi a peça-chave para que a polícia do Rio de Janeiro apontasse os responsáveis pelo assassinato do embaixador grego no Brasil, Kyriakos Amiridis. O detalhe levou os jornais populares brasileiros a destacarem a “tragédia grega” em tons picarescos.

TEXTO PLÍNIO FRAGA, CORRESPONDENTE NO BRASIL

Aos 59 anos, Amiridis foi morto no dia seguinte ao Natal. Seu corpo foi encontrado carbonizado, dois dias depois do assassinato. A embaixatriz Françoise Amiridis e seu amante, o policial militar Sergio Gomes Moreira Filho, foram presos sob acusação de tramarem e concretizarem o crime. Eduardo Moreira Tedeschi de Melo, primo do policial, também foi preso por participação no assassinato.

Desde 26 de dezembro, Nova Iguaçu virou centro de atenção de polícias gregos que acompanham os trabalhos da polícia brasileira. Juntos, trabalham no levantamento dos bens do embaixador grego para esclarecer a motivação dos três acusados pelo crime. Os agentes procuram testamento ou algum seguro de vida contratado pelo embaixador que pudesse beneficiar diretamente sua mulher, Françoise Amiridis.

Françoise e seu amante pretendiam, após o homicídio, “ficar com os bens e curtir a vida” com o dinheiro do grego, declarou o delegado Evaristo Magalhães, responsável pela investigação. A polícia suspeita que os 80 mil reais (€23.600) prometidos ao primo do policial militar para que auxiliasse na morte fariam parte dos bens do embaixador. O valor teria sido prometido por Françoise, mas só seria entregue um mês após o crime, de acordo com Eduardo de Melo.

ASSASSINADO Embaixador Kyriakos Amiridis em agosto de 2016, na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos FOTO EPA

ASSASSINADO Embaixador Kyriakos Amiridis em agosto de 2016, na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos FOTO EPA

Na última sexta-feira, a Justiça decretou a prisão temporária por 30 dias dos três acusados. Segundo o juiz Felipe Carvalho da Silva, o policial tentou apagar imagens de câmaras de segurança do circuito interno do condomínio de Nova Iguaçu onde o diplomata foi morto e que mostram a remoção do cadáver.

Moreira, de 29 anos, confessou o crime depois que os investigadores obtiveram imagens que o mostravam entrando e saindo da casa do grego, na noite do crime.

O policial, que prestava serviços de segurança ao casal, admitiu que matou o embaixador depois de ter brigado com ele. Apontou como razão os contínuos maus-tratos que Françoise sofria por parte de Amiridis. Na briga, o diplomata teria apontado uma arma. Moreira o teria então asfixiado em legítima defesa. No entanto, a perícia do aposento onde o embaixador foi morto revelou manchas de sangue no sofá, o que é incompatível com morte por asfixia. Peritos acreditam que a vítima tenha sido esfaqueada. A suposta arma de fogo do embaixador até agora não foi encontrada.

ACUSADA Mulher do embaixador escoltada pela polícia a caminho da prisão FOTO REUTERS

ACUSADA Mulher do embaixador escoltada pela polícia a caminho da prisão FOTO REUTERS

A viúva declarou à polícia que ela e o embaixador já não tinham mais “relação conjugal”. Em seus primeiros depoimentos, a embaixatriz disse que no dia do assassinato ela estava alheia à tragédia, pois passeava no shopping com a filha de 10 anos do casal. No dia seguinte ao crime, teria visto uma mancha escura no sofá de sua casa e questionado o amante sobre o que tinha acontecido. Ele, então, teria confessado o crime.

Apesar de tal confissão, Françoise resolveu denunciar o suposto desaparecimento do marido no dia seguinte à polícia, sem mencionar o amante. Disse que ele havia saído de carro na segunda e desde então não dava notícias. Ressaltou que não era a primeira vez que o embaixador saía e ficava mais de um dia sem dar satisfação.

A presença de Françoise na delegacia com o policial e um advogado intrigou os policiais. A busca por Amaridis em hotéis e locais da zona sul que o embaixador frequentava a trabalho não deu em nada. Os policiais partiram para a contraposição dos depoimentos da embaixatriz e de seu amante. As contradições levaram a polícia a focar a investigação no casal.

O casal Amiridis morava em Brasília e estava passando férias em Nova Iguaçu. Cônsul-geral da Grécia no Rio de 2001 a 2004, Kyriacos Amiridis assumira o posto de embaixador da Grécia no Brasil em 2015.